sábado, 12 de março de 2016

Misericórdia

Hoje a  chuva  começou a  cair  cedo,
fininha , depois  engrossou.
Março  promete mais, mas  não  serão  as  últimas  águas.
O  pensamento traz  palavras  bonitas,
mas  a  melancolia as  levam embora  mais  rápido
que  o voo  do  beija-flor perdido  dentro de  casa.
No  corredor as  ideias  parecem desvanecer
em definitivo.Nem as  plantas respondem
à  pequena  brisa que  sopra  da  janela.
Sempre  foram paliativos para  as  aflições -  o  viço
e  o  perfume das  flores -
Mas  hoje não. E   as  palavras  nos  saem sombrias.
Atravessamos tempos de  grandes tempestades
e  março não  nos  dará  refresco.

Na  cozinha o cansaço parece  impregnar tudo.
As  frutas na  fruteira perdem o  colorido convidativo
e não  aguçam  o  apetite,
Assim como o  cheiro do  alho  fritando.
O que escorre dos  móveis, silenciosos em sua imobilidade,
é a poeira  do  ar. O  cuidado parece
nunca  ser eficaz, e  é  como se  estivesse
ali  há  anos.
Os  chamados constantes
O  toque  do  telefone  insistente,
A  paciência que  se  desdobra
e  as  ofensas vão  para  o esquecimento  benfazejo.
Somos  todos filhos de  mães  piedosas.
Somos  um país  carente,
mas  não  agonizante.
Tudo muda  para  melhor
ou para  o  fim definitivo.
E  tudo  recomeça
num ponto  final?
Essas são  palavras que  queremos renegar.
Mas nos  as  reconhecemos
no  cruzamento dos  olhares.
A  culpa nos persegue
como a  praga  dos  pernilongos.
Até nos  lembrarmos
que há  uma boa  nova
em meio às  angústias  do  cotidiano:
Antonio  vai  chegar.
lv-jf 11/3/2016

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