Hoje a chuva começou a cair cedo,
fininha , depois engrossou.
Março promete mais, mas não serão as últimas águas.
O pensamento traz palavras bonitas,
mas a melancolia as levam embora mais rápido
que o voo do beija-flor perdido dentro de casa.
No corredor as ideias parecem desvanecer
em definitivo.Nem as plantas respondem
à pequena brisa que sopra da janela.
Sempre foram paliativos para as aflições - o viço
e o perfume das flores -
Mas hoje não. E as palavras nos saem sombrias.
Atravessamos tempos de grandes tempestades
e março não nos dará refresco.
Na cozinha o cansaço parece impregnar tudo.
As frutas na fruteira perdem o colorido convidativo
e não aguçam o apetite,
Assim como o cheiro do alho fritando.
O que escorre dos móveis, silenciosos em sua imobilidade,
é a poeira do ar. O cuidado parece
nunca ser eficaz, e é como se estivesse
ali há anos.
Os chamados constantes
O toque do telefone insistente,
A paciência que se desdobra
e as ofensas vão para o esquecimento benfazejo.
Somos todos filhos de mães piedosas.
Somos um país carente,
mas não agonizante.
Tudo muda para melhor
ou para o fim definitivo.
E tudo recomeça
num ponto final?
Essas são palavras que queremos renegar.
Mas nos as reconhecemos
no cruzamento dos olhares.
A culpa nos persegue
como a praga dos pernilongos.
Até nos lembrarmos
que há uma boa nova
em meio às angústias do cotidiano:
Antonio vai chegar.
lv-jf 11/3/2016
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